quinta-feira, 7 de março de 2013

AS AVENTURAS DE PI

Antes de comentar o filme em si, vale a pena contar um curiosidade, que está relacionada com essa produção cinematográfica. O filme As Aventuras de Pi foi baseado no livro Life of Pi, do escritor canadense, Yann Martel, publicado em 2001. Essa obra ganhou o prêmio Booker Prize, um dos mais importantes do mundo e o mais importante da língua inglesa. Até aí tudo bem.

O problema começa quando comparamos Life of Pi com o livro Max e os Felinos, do escritor brasileiro, Moacir Sciliar. As coincidências impressionam. No Life of Pi (já faço aqui também o resumo do filme), por questõs políticas e financeiras, um garoto e sua família se mudam da Índia para o Canadá. A família tem um zoológico e resolve levar os animais para vendê-los no novo país. No caminho, há um naufrágio, e o menino se vê num bote, em alto-mar, na companhia de um tigre.

Agora a história de Max e os Felinos, publicado em 1980 e traduzido para o inglês em 1990, recebendo o nome de Max and the Cats. Na obra de Sciliar, o menino é um judeu que foge da Alemanha nazista para o Brasil. O navio em que está também leva um circo. A embarcação afunda, e o menino se vê num bote, em alto-mar, na companhia de um jaguar. Humm! Muita coincidência, hein!

Fala-se em inspiração e não plágio. Que não se pode plagiar ideia. Sciliar admite isso. Ok. Apesar de controverso, pode ser. Mas, para mim, o autor de Life of Pi, ainda que tenha utilizado elementos novos e tenha dado outro início, final e aplicação à trama, não mereceria o prêmio. Pois o espinha dorsal da obra, a sua grande sacada, o seu grande diferencial,  é exatamente a criatividade de inventar a situação em que se colocam, num bote, à deriva, um garoto e um felino selvagem. Foi essa sacada que me chamou atenção para o filme e creio que tenha pesado na premiação recebida. Se a ideia foi copiada, baseada, inspirada, em algo já existente, o autor perde credibilidade e deveria, portanto, perder o prêmio.

Além disso, seria de bom tom, consultar ou comunicar o autor brasileiro sobre a utilização da sua ideia, o que Yann Martel não fez.  O próprio Sciliar disse não ter sido consultado pelo escritor canadense. Para completar, o autor canadense não deu os devidos créditos ao autor brasileiro. Ele só fez uma pequena menção ao brasileiro no prefácio, sem dizer qual foi a contribuição de Sciliar para o livro. Sem falar que Martel inventou uma historinha bem sem-vergonha para explicar a coincidência. Por tudo isso, há fortes indícios que o canadense tenha agido de má-fé para se apropriar da ideia. Mais um motivo para perder o prêmio.

Aff!! Me empolguei com a confusão entre os livros e me estendi no assunto. Vamos falar do filme então.

Fui ver As Aventuras de Pi sem muitas expectativas. Esperava apenas matar um tempo, divertir-me, com mais um filme de aventura e todos os clichês do gênero. Esperava ver uma história inverossímil, absurda, que abusaria dos efeitos especiais para nos envolver. Enganei-me. Quer dizer, não totalmente, porque alguns clichês existem; não do tipo que eu imaginava, mas existem, como o batido recurso de um escritor que vai procurar um desconhecido para conhecer sua história e transformá-la em livro. Também vemos cenas difíceis de engolir, como a sequência em que ele sobrevive, num barquinho, a uma poderosa tormenta. Perdoáveis. Acertei ainda no item "diversão". O filme diverte, tanto pelas passagens de humor, momentos de emoção, como pela trama em si. A fotografia é belíssima. Os efeitos especiais, tanto visuais como sonoros, impressionam e nos insere nos acontecimentos. Vivemos a aflição e a angústia do personagem. O trabalho feito com o tigre, então... Impressionante! E, claro, temos que destacar a excelente atuação do ator que fez o personagem principal durante os momentos em que o barco está à deriva.

Contudo, As Aventuras de Pi não é só para matar um tempo; vai além disso. O filme nos propõe importantes lições de vida e levanta - às vezes de forma aberta, outras vezes de forma serena, discreta e enigmática - bonitas reflexões sobre a espiritualidade. Inclusive, no aspecto espiritual, o obra deixa a conclusão a critério do expectador. Vale acompanhar essa incrível história, quer você seja religioso ou não.

Ficha Técnica
Diretor: Ang Lee
Elenco: Irrfan Khan, Gérard Depardieu, Suraj Sharma, Adil Hussain, Ayush Tandon
Produção: Ang Lee, Gil Netter, David Womark
Roteiro: David Magee, baseado na novela Yann Martel
Duração: 129 min.
Ano: 2012
País: EUA
Gênero: Drama

Trailler



Para quem ficou curioso sobre a celeuma gerada pela comparação entre Life of Pi e Max e os Felinos, segue o depoimento de Sciliar.

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