quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

LISTA PARA 2015

No último dia do ano passado, fiz uma lista de livros a ler e filmes a assistir em 2014. Não consegui concluir a lista, talvez tenha cumprido a menor parte dela; por outro lado conferi outras obras que não estavam inicialmente relacionadas, o que ligeiramente ameniza a minha situação. De qualquer maneira, vou repetir o propósito e vou lançar outra lista de obras a serem apreciadas e, consequentemente, resenhadas aqui no blog, permanecendo na relação aquelas que não puder ler ou ver.


Livros:

*Clássicos
- Crime e Castigo (Dostoiésvki) (reler)
- Dom Quixote (Cervantes) (reler)
- Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado) (reler)
- O Castelo (Kafka) (reler)
- Anna Karenina (Tolstói)
- Ulisses (Joyce)
- Mulheres Apaixonadas (Lawrence)

- Ensaio sobre a Cegueira
*Nacionais premiados
- Barba Ensopada de Sangue (Daniel Galera) - Prêmio São Paulo de 2013

Filmes

- Dançando no Escuro (rever)
- A Comilança (rever)
- O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (rever)
- Cidadão Kane (rever)
- Abril Despedaçado (rever)
- E mais seis ganhadores de prêmios importantes em 2014.

Vejo agora que é praticamente a reprodução da lista de 2013. Kkkk Vamos ver se me saio melhor no próximo ano.

Feliz 2015

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

A METAMORFOSE


Ler Kafka geralmente é angustiante, instigante e enternecedor; e A Metamorfose nos oferece exatamente essa experiência.  O enredo é bem criativo e curioso: ainda na cama, ao acordar, um jovem descobre que está se transformando num bicho, aparentamente um inseto, talvez uma barata; isso não fica claro no livro. Não é só o fato de estar adquirindo a aparência de um inseto que o incomoda, preocupa-o também o sério risco de perder o emprego, o que é grave porque é ele sozinho quem sustenta toda a família: mãe, pai e irmã. Na esperança de que seja algo passageiro, o jovem tenta esconder sua nova condição dos familiares, mas a metamorfose se consolida e ele vai ter que encarar a todos com aquela aparência repugnante mesmo. A descoberta vai determinar as novas bases da relação entre os outros membros da família e o jovem.

Dada a competência de Kafka, o relato da transformação é perturbador. É fácil visualizar as cenas descritas da transformação e quase dá para sentir a aflição e a tristeza que acometem o personagem durante o processo de mudança pelo qual ele passa. Contudo, a competência maior do autor se configura no momento em que ele apresenta e discute as mudanças por que passam a familia em virtude da nova e complicada situação que devem enfrentar. Agora um alerta. Para discutir as ideias que extraí do livro, é inevitável entregar parte da história. Caso não tenha lido a obra e se importe em conhecer os desenlaces por antecipação, sugiro parar a leitura.

Aos que continuaram a ler, entendi que Kafka pretendia revelar a hipocrisia que permeia as relações familiares, até mesmo entre pessoas tão próximas como pais e filhos ou irmãos, tema que por vezes evitamos por atingir pessoas que nos são caras ou por não querar acreditar que tais situações existam, mas os bons autores não fogem dessas questões e, sem reservas, aborda esse casos justamente para nos provocar. 

No livro em debate, o jovem era o único na família que trabalhava e conseguia manter a todos dentro de um relativo conforto com o suado salário que ganhava. E todos se acomodavam na desculpa de que o pai era doente e a irmã muito nova para o trabalho e se escoravam no jovem; até o "amavam". "Amaram-no" enquanto ele se revelou útil. Quando o rapaz perdeu a utilidade e constituiu um fardo, seus familiares passaram a ser indiferentes e até hostis em relação a ele, sob o fácil pretexto de que ele não era mais o filho de outrora, mas sim um criatura abjeta que deveria ser ignorada ou até eliminada do seio familiar. 

Fica claro que se acomodavam numa desculpa porque bastou a necessidade apertar para que os membros da família dessem um jeito de cortar gastos ou ganhar algum dinheiro: demitiram a empregada, alugaram um quarto da casa, o pai e a irmã arrumaram um emprego. Ou seja, eles também se metamorfosearam. Daí fica a pergunta: qual era a verdadeira metamorfose que o autor desejava nos mostrar? Talvez todas, até mesmo a que se opera em nós assim que acabamos de ler o livro.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

EXPOSIÇÃO GÊNESIS - SEBASTIÃO SALGADO

Mais uma grande atração gratuita no CCBB. Trata-se da exposição fotográfica Gênesis, com imagens feitas por Sebastião Salgado. Até dia 20 de outubro, Brasília tem a oportunidade de conferir de perto a sensibilidade do olhar que esse renomado fotógrafo dirigiu à natureza no seu estado mais puro, bem como do olhar que ele dirigiu à relação do homem com essa mesma natureza.

As fotografias são fantásticas, não só pela beleza da imagem em si, mas também pelo seu poder de provocar reflexão. Tendo isso em conta, não olhe as imagens levianamente. As fotos foram tiradas e expostas com o objetivo principal de nos fazer pensar na nossa relação com a natureza, e dessa forma devem ser vistas e sentidas. Com isso em mente, sua experiência certamente será bem mais rica. 

São mais de 300 fotos em quatro espaços diferentes, portanto é necessário um bom tempo para apreciar a exposição devidamente. Se tiver escolha, não leve crianças muito pequenas; se levar, prepare os braços e a paciência. Meu filho de cinco anos curtiu bastante, não deu trabalho algum; já o de três, mais ou menos na metade da visita, dispersou-se, cansou-se e pediu colo.  

Como se trata de uma exposição fotográfica, nada melhor do que utilizar fotos para contar minha experiência.   



Minhas imagens preferidas



















quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O MENDIGO QUE SABIA DE COR OS ADÁGIOS DE ERASMO DE ROTTERDAM


O título em si do livro já intimida um bocado e, quando não assusta de vez, autoriza no máximo uma aproximação respeitosa. Acreditando que poderá ter vida mais fácil ao vencer a sua capa, o intrépido e desconfiado leitor supera o preconceito inicial e resolve abrir o exemplar (afinal de contas é uma obra agraciada com o prêmio Jabuti). Aí é que vem o engano: o seu conteúdo se revela ainda mais intimidador, de modo que, se o atrevido leitor não for paciente, não permanecerá em sua páginas por muito tempo. É assim mais ou menos a relação com O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam, de Evandro Affonso Ferreira. 

Na verdade, nem a sensação de ter entrado de fato no livro eu tive. Parece que acompanhei tudo a distância. É como um sujeito que de papel na mão chega ao endereço de um teatro alternativo indicado por um colega de trabalho. Ele hesita em seguir adiante porque a fachada do edifício não é nada convidativa. Como já tinha chegado até ali, decide se aproximar do local, mas as portas estão trancadas, os vidros das janelas estão embaçados e só lhe resta uma pequena frincha na parede de onde, com um só olho, pode acompanhar o espetáculo que se desenrola lá dentro. A posição é desconfortável, a peça é confusa, o espectador não consegue se envolver emocionalmente, e logo ele se cansa e se distrai. 

Foi assim que me senti ao ler a história de um homem bastante erudito que, perturbado por conta de uma desilusão amorosa, decide morar nas ruas de uma grande cidade. No seu monólogo, esse erudito solitário, já perto da loucura, relata a sua relação com a mulher amada, o fora que levou dela, sua esperança de rever esse grande amor, bem como faz reflexões sobre sua vida, sobre a vida de outros mendigos, sobre a sociedade em geral. E toma-lhe uma enxurrada de palavras difíceis, construções sintáticas inusitadas, neologismos, citações filosóficas, nomes de figuras mitológicas pouco conhecidas e, claro, reprodução de vários adágios de Erasmo de Rotterdam; sem falar na repetição frequente, no relato do protagonista, de várias expressões e desejos seus, como se fossem bordões que adquiriu na sua luta diária para não deixar as lembranças escaparem.

Como se pode perceber é uma leitura difícil e arrastada, que exige atenção, paciência e consultas constantes a dicionários e ao Google. Não vou dizer que é um livro ruim, nem tampouco pretensioso, enganador ou afetado; não é por aí. É um livro pouco amistoso, vamos dizer. Essa antipatia se deve à escolha radical de Evandro Affonso Ferreira de privilegiar a forma em detrimento de um comunicação mais aberta com o leitor comum, o que parece ser uma característica do autor. O resultado é um livro culto, com boas percepções sobre a vida e sobre a sociedade, mas praticamente sem emoção. 

É como se fosse um convite para um encontro, num começo de noite de uma quinta-feira qualquer, reservado a um grupo seletíssimo de pessoas. Nesse evento, os poucos convidados, de pernas cruzadas e óculos na ponta do nariz, exaltam, em tom comedido e excessivamente formal, as virtudes estilísticas da obra em discussão. Hummm...! Não sei... pode até ser legal, mas eu prefiro uma festinha mais animada. 

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

A GAIOLA DOURADA


Nem só de filme "cabeça" vive o cinema europeu, aí incluído o francês, que tem lançado nos últimos anos, sem qualquer constrangimento, filmes com apelo mais comercial, principalmente no gênero comédia. Três exemplos de produções recentes dessa categoria, e que já foram resenhadas aqui no blog, são: Os IntocáveisQual é o Nome do Bebê e Minhas Tardes com Margueritte. Convenhamos: não dá para ficar só em filme "cabeça" o tempo todo! Obras que se preocupam mais com a diversão do que com a densidade também têm o seu lugar, ainda mais quando seu propósito é nos fazer rir. 

Ainda que fazer pensar profundamente sobre algum tema não seja o seu principal objetivo, não se pode afirmar que esses filmes sejam totalmente vazios, sem qualquer conteúdo. Mesmo essas comédias francesas mais comerciais costumam oferecer algum questionamento um pouco mais elaborado. A diferença é que o tratamento dessa reflexão é bem ameno, de maneira a não prejudicar a natureza principal do filme que é proporcionar diversão despreocupada ao telespectador. 

Esse é o caso de A Gaiola Dourada, película produzida numa parceria firmada entre França e Portugal. O enredo apresenta um casal de imigrantes portugueses (ele é pedreiro; ela, zeladora de um prédio), que vive em Paris há vários anos. Um dia os dois recebem uma herança milionária da qual só poderão usufruir se deixarem suas vidas na França e se transferirem ao seu país de origem para assumirem a administração do negócio. O problema é que esse casal já tem uma vida estabelecida na França, tem filhos franceses e se tornou muito importantes na vida das pessoas que o cercam, como os patrões, os moradores do prédio e os parentes que também moram nesse país. Essas pessoas todas, ao descobrirem que podem ser "abandonados," começam a armar situações para que o casal fique. 

O filme diverte, apresentando situações bem engraçadas; e suavemente nos faz refletir; o seu tal questionamento um pouco mais elaborado consiste no dilema entre ficar num país estrangeiro ao lado da família e amigos, mas levando uma vida simples, ou realizar o sonho de voltar para a terra natal, podendo desfrutar de uma vida de luxo, mas sem a família e os amigos. 

Tudo bem... A Gaiola Dourada é divertido, engraçado, serve para matar o tempo, mas não dá para dizer que é um grande filme. A título de comparação, achei-o inferior aos outros três acima citados. Se, dentro desse segmento de comédias mais descompromissadas, Os Intocáveis e Qual é o Nome do Bebê eu classificaria como muito bons; Minhas Tardes com Margueritte, como bom; eu diria que A Gaiola Dourada é apenas mediano. Isso porque algumas passagens foram previsíveis, algumas soluções foram fáceis (sobretudo o final), uma ou outra piadinha era exageradamente feita para agradar e o dilema do casal foi mal explorado no seu aspecto emocional. De qualquer maneira, é um filme que cabe bem num momento mais preguiçoso.

Trailer


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O CAÇADOR DE PIPAS - LIVRO



Sucesso mundial de vendas no começo da primeira década do atual milênio, esse livro só chegou às minhas mãos recentemente. Logo vi que essa obra deveria ser encarada como o que ela realmente é: uma forma simples de retratar uma história, sem recorrer a grandes reflexões filosóficas, nem a refinadas críticas políticas ou sociais, muito menos a grandes manobras linguísticas ou inovação na forma. Não espere nada denso ou profundo como, só para ficar em dois exemplos,  Crime e Castigo (Dostoiévski) ou Ensaio sobre a Cegueira (José Saramago). Não é livro para discussões acadêmicas. Poderíamos dizer que é um livro do tipo mais popular, para matar o tempo.  Percebe-se isso logo nas primeiras linhas por conta da linguagem simples adotada pelo autor. Enfim, O Caçador de Pipas não tem estofo para para se tornar um grande clássico da literatura, como Cem Anos de Solidão (Gabriel García Márquez), para citar outro exemplo. Todavia, enxergando-o como de fato ele é, O Caçador de Pipas pode ser uma boa experiência de leitura. 

Eis um pequeno resumo: Amir e Hassan têm, ao mesmo tempo, uma relação de amizade e de patrão/empregado. O primeiro é filho de um homem rico e importante na cidade de Cabul, Afeganistão. O segundo é filho do empregado da família do primeiro. Como moram no mesmo lote, eles crescem e brincam juntos e se tornam muito próximos. Contudo, algo abala esse equilíbrio: no começo da adolescência, Amir falha com seu amigo, que passa por um terrível infortúnio. A partir desse dia, o fantasma da culpa passa a perseguir Amir. O título do livro deve-se à habilidade de Hassan em apanhar as pipas que eram cortadas nos campeonatos desse tipo de brinquedo que ocorriam anualmente em Cabul. É correndo atrás de uma pipa, num desses campeonatos, que Hassan vive sua desventura. 

Como todo livro mais popular, O Caçador de Pipas apresenta na sua fórmula: personagens um tanto simples, frases de efeito, tom mais emotivo e drama mais carregado. O problema é que muitas vezes esse forte apelo emocional esbarrou no sentimentalismo barato e ficou piegas; e isso me incomodou. Frases de efeito de cunho sentimental contribuíram para esse toque mais piegas, como essa frase aqui: "Por você eu faria isso mil vezes." Por vezes, o autor também errou a mão no drama; e, em muitos momentos, a história ganhou ares de dramalhão hollywoodiano com pitadas de novela mexicana; tudo por conta de coincidências inacreditáveis e artificiais, que deixaram algumas situações um tanto inverossímeis. 

Achei ainda que essa grande culpa que Amir carrega por todo o livro foi supervalorizada. Tenho para mim que ninguém ficaria tão perturbado, por tanto anos, por algo que fez no começo da adolescência, período em que invariavelmente fazemos alguma bobagem. De fato, o erro de Amir foi bem grave, mas para mim não o suficiente para justificar o pesar tão grande que o personagem sente por boa parte de sua vida.

A grande virtude do livro é sua honestidade. Ele não quer ser o que não é; não quer nos enganar. Me irritam livros que tentam vender uma profundidade que não têm. Já que dei exemplos antes, aqui vai um de um livro enganador: Fim, escrito por Fernanda Torres (já resenhado nesse blog. Link aqui). O Caçador de Pipas não apela para esse recurso, e isso é bom porque nos desarma, e nos abrimos para acompanhar, sem grandes preocupações intelectuais, uma trama muito triste, cheia de dramas e reviravoltas, que tem como pano de fundo as guerras pelas quais passa o Afeganistão bem como as transformações políticas e sociais decorrentes das crises vividas por esse país. Foi interessante conhecer um pouco mais da cultura do Afeganistão e os problemas que ele enfrentou.

Descontando o excesso de drama e coincidências difíceis de engolir, é um bom livro para quem deseja se distrair e se emocionar. Khaled Hosseini consegue contar um boa história: forte e triste; surpreendente em alguns momentos, previsível em outros; trágica em muitas passagens, bonita em outras poucas. O final foi bem tocante e me surpreendeu. Eu esperava algo bem sentimental como foi na maior parte do romance, mas fui surpreendido e tocado por um arremate bem sereno e bonito.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

GRAVIDADE


Eis um filme que oferece bons momentos de distração. Essas histórias de pessoas submetidas a situações extremas de solidão, perigo, tensão, fragilidade, em que sua sobrevivência está em jogo, nunca deixam de nos impressionar. Naufrágios, desastres aéreos, soterramentos; desaparecimento em selvas, montanhas cobertas de neve ou deserto; todas essas experiências nos envolvem especialmente porque apresentam seres humanos sem poderes especiais, de quem são exigidos atos heroicos para superar o terrível infortúnio. Facilmente nos identificamos com esse herói ou heroína, porque, de alguma maneira, poderíamos estar ali, passando por algo semelhante.

Gravidade não se encaixa totalmente nesse quadro porque o acontecimento é inusitado demais para uma pessoa comum. Trata-se de um acidente ocorrido na órbita terrestre, provocado por uma nuvem de detritos resultantes da destruição de satélites; acidente esse que envolve uma equipe de astronautas, entre os quais se encontra a especialista Ryan Stone (Sandra Bullock). É o seu sofrimento que vamos acompanhar com mais proximidade.

Embora a possibilidade de se ver perdido no espaço esteja meio distante da grande maioria das pessoas - quase a totalidade dos habitantes do globo -, o fenômeno da empatia não deixa de estar presente no filme. Talvez pensando exatamente em aproximar o máximo possível do ser humano comum o drama vivido pela protagonista, a solução tenha sido eleger como heroína uma astronauta de primeira viagem, que possuía somente conhecimentos teóricos necessários para enfrentar os momentos de crise. Devido à sua insegurança e fragilidade, instantaneamente nos ligamos à personagem e sentimos a forte tensão a que ela é submetida. 

As palavras que escolho para definir Gravidade são competência, criatividade e sensatez. Competência e criatividade no roteiro (Alfonso Cuarón, Jonás Cuarón, Rodrigo García), na direção (Alfonso Cuarón) e na edição (Alfonso Cuarón e Mark Sanger), porque criar situações tensas no espaço não parece ser tarefa das mais fáceis se compararmos a um naufrágio, por exemplo. Nesse último, o cardápio de elementos que podem causar desequilíbrio na situação dos envolvidos se mostra bem mais óbvio e bem vasto: tempestade, animais, sol inclemente, problemas na embarcação e por aí. Agora, na órbita terrestre, partindo de uma perspectiva realista, não me parece haver tantas variáveis que possam criar momentos de desequilíbrio. Pois, em Gravidade, a despeito dessa limitação, a quebra do equilíbrio é constate e a tensão está bem presente.

Sensatez também porque souberam dosar a intensidade e a quantidade dos ingredientes de modo a não tornar o filme entediante. As doses de humor (não achei graça na maioria das piadas, mas... tudo bem...passa) aparecem na figura do experiente astronauta Matt Kowalski (George Clooney); já o trauma pessoal, tratado sem pieguismo, fica na conta da especialista Ryan; as cenas de ação aparecem em diversas momentos; uma passagem dedicada à reflexão sobre a vida também está lá; e, por fim, a própria duração do filme (cerca de uma hora e meia) foi de bom tom; mais do que isso seria encher linguiça. Podemos dizer que é um filme bem ajustado.

Apesar de todos esses aspectos positivos, Gravidade não poderia mesmo ter sido ganhador do Oscar de melhor filme (nas outras áreas, sua vitória me parece merecida); questiono até mesmo a sua indicação nesse segmento. De fato, é bem produzido, bem dirigido, belíssimas imagens, ótimos efeitos especiais e conta com uma boa atuação de Sandra Bullock (indicada a melhor atriz, sem contudo sem sair vencedora), mas daí a uma indicação ao Oscar de melhor filme... não sei... me parece um pouco demais. Acho que falta conteúdo ao filme; falta-lhe substância. É uma boa diversão. Entendo que ele deva ser encarado assim.


Trailler



quarta-feira, 23 de julho de 2014

A EXPERIÊNCIA DA ARTE - ARTE PARA CRIANÇAS



Até o dia 11 de agosto, terá lugar no CCBB a exposição A Experiência da Arte - Arte para Crianças. O diferencial desse evento é a oportunidade oferecida aos visitantes de conhecer e participar do método de elaboração da obra do artista e até mesmo interagir com ela. 

Outro aspecto interessante e positivo, a meu ver, é o fato de que, na maioria dos casos, não há regras ou orientações aos participantes quando eles vão confeccionar a própria arte; e, quando há, é só o mínimo necessário para que a arte funcione devidamente, como no caso da construção da fotografia com a técnica utilizada por Vick Muniz. Portanto, via de regra, há liberdade para se fazer o que quiser com os objetos disponíveis. Convém salientar que, apesar do título da mostra destacar como público-alvo as crianças, os adultos não são proibidos de colocar a mão na massa.

São vários e diferentes trabalhos: fotografias, esculturas, poemas visuais, obras sonoras, esculturas; tudo num espaço bem amplo e confortável. Propositalmente, há poucas informações sobre as obras, objetivando dar liberdade de interpretação e apreciação ao visitante. E a cereja do bolo...? a entrada é franca! Vou destacar as que achei mais interessantes em termos de possibilidade de participação e interação com elas.


1 - O artista Eduardo Coimbra usou esses grandes cubos para apresentar uma concepção diferente de uma casa. A criança pode entrar e subir nos cubos à vontade.




2 - Com essas pequenas peças, o participante fica livre para montar a escultura que desejar. Com a experiência, crianças e adultos entendem como foi elaborada a obra "Malhas da Liberdade" de Cildo Meireles.




3 - Numa parede magnetizada, o visitante tem a liberdade de grudar as palavras do jeito que desejar, formando seus próprios poemas.



4 - E, para mim, a mais interessante de todas: o ateliê-estúdio fotográfico que revela elementos da técnica utilizada por Vick Muniz para fazer alguns de seus trabalhos. Após fazer o esboço em um desenho, a imagem desse desenho é projetada numa tela no chão, e os participantes podem cobri-lo com o material colocado à disposição no espaço: cordas, fitas, panos, formas geométricas. Em seguida, é tirada uma foto do desenho com os acréscimos físicos, e o resultado é exposto. (Como não é permitido tirar fotos do ateliê-estúdio fotográfico, seguem exemplos do antes e depois dos desenhos que foram feitos no local. O depois está à esquerda).




Instrutiva, divertida e interativa. É um ótimo programa com as crianças.

Para saber mais, acesse o link a seguir: http://culturabancodobrasil.com.br/portal/experiencia-da-arte-serie-arte-para-criancas/#local


quinta-feira, 17 de julho de 2014

O HOMEM DUPLICADO



Sou amante do futebol, por isso, durante a copa, me afastei um pouco do blog (só tinha cabeça para o evento. rsrs). Agora, que a copa acabou e consigo pensar em outra coisa, volto minha atenção a este espaço. Volto comentando um filme: O Homem Duplicado, que foi baseado na obra homônima de José Saramago. Como ainda estou pegando o ritmo, não vou quebrar a cabeça fazendo a sinopse; segue a que retirei do site Adoro Cinema: Um pacato professor de história descobre acidentalmente a existência de um sósia seu, um ator, quando assiste a um filme banal. Ele, então, resolve ir atrás de seu duplo, envolvendo sua namorada e a esposa dele, em uma trama de suspense que muda a vida a vida de todos os personagens.

Hoje vou me valer de um esquema bem prático e simples, que é dividir minha análise em dois tópicos: gostei e não gostei. 

  • Gostei: 
  1. Da forma como o diretor conduziu o filme, principalmente nas relações entre o homem, o seu duplo e as mulheres envolvidas. Foi um jogo de esconde e revela bem interessante, o que segura a nossa atenção. E as verdades foram reveladas bem sutilmente, o que foi um respeito à inteligência de quem está assistindo. Apesar de bem cadenciado e até meio confuso em alguns momentos, dado o seu jogo de cenas, não foi difícil acompanhar o filme.
  2. Da atuação do  Jake Gyllenhaal. Não foi extraordinário, mas ele cumpriu seu papel direitinho.
  3. Da fotografia e dos cenários, que ajudaram a construir a atmosfera meio inquietante da história. 

  • Não gostei:
  1. Do estilo e da linguagem adotados na produção, que soaram meio pedantes. Em alguns momentos, o texto, os diálogos e os jogos de imagens e sons me pareceram uma tentativa forçada de dar mais profundidade e inteligência à obra.
  2. Do caráter enigmático da película. Até hoje tenho a sensação de não ter entendido o significado de alguns elementos do filme, por exemplo: a aranha, que vira e mexe aparece em cena. Sei que aranha, muitas vezes, representa a mulher, e parece ser isso nesse caso, mas... e aí? O que o diretor quis passar com essa representação? E será que é esse o significado mesmo? O final me pareceu bem críptico também. Quando acabou, tive vontade de fazer como um amigo meu ao ouvir o discurso maluco do Lulu Santos em seu show e gritar: Ô, viagem!! Gosto de pensar e refletir sobre a obra, sobre a mensagem que ela deseja passar, mas ficar investigando detalhes bem escondidos, ficar juntando pequenas peças, para tentar desvendar o significado de símbolos misteriosos, isso não me atrai. Acho esse recurso desnecessário e pretensioso. Claro que o fato de ter visto o filme apenas uma vez dificultou a minha tarefa de interpretação, de modo que vou vê-lo novamente, para buscar esse entendimento, mas ainda que consiga interpretá-lo, não vou mudar minha avaliação nesse item. Não foi o fato de não ter decifrado a mensagem que me fez gostar menos do filme; foi o modo de apresentá-la mesmo.

É um filme que divide opiniões. Afora algumas "viagens," eu gostei; não foi nada marcante ou impressionante, mas gostei. Assista e compartilhe sua opinião conosco. Até mais!

Ficha técnica

Gênero: Suspense/Drama

Direção: Denis Villeneuve

Roteiro: Javier Gullón

Elenco: Alexis Uiga, Darryl Dinn, Isabella Rossellini, Jake Gyllenhaal, Joshua Peace, Kedar Brown, Megan Mann, Mélanie Laurent, Misha Highstead, Sarah Gadon, Tim Post

Produção: M.A. Faura, Niv Fichman

Fotografia: Nicolas Bolduc

Montador: Matthew Hannam



Trailler 





sexta-feira, 23 de maio de 2014

MALÈNA



Malèna (Mônica Bellucci) é uma mulher muito bonita e sensual, que chama a atenção de todo um vilarejo na Itália, colecionando detratores e admiradores. Entre os do segundo grupo, destaca uma turma de adolescentes que a perseguem pelas ruas da localidade; um deles é Renato. É pelos olhos de Renato que acompanhamos o cotidiano e as transformações da vida de Malèna, que se encontra sozinha em casa porque o marido está em outro país, lutando na segunda guerra mundial. 

Malèna é um filme escrito e dirigido por Giuseppe Tornatore, o mesmo diretor e roteirista de Cinema Paradiso, até hoje o maior sucesso do cineasta, que lhe rendeu inclusive um Oscar de melhor filme estrangeiro. Além do Cinema Paradiso (até eu ver Malèna), não tinha assistido a nenhuma outra produção do diretor, por isso não posso dar opinião sobre a carreira dele, mas pela opinião dos fãs de Cinema Paradiso, nenhum outro filme do diretor se equivaleu a esse. A crítica diz que, após seu grande sucesso, Tornatore teve uma carreira irregular, alternando trabalhos bons e regulares. Meu olhar amador coloca Malèna na categoria dos filmes bons de Tornatore, mas devo adiantar que está abaixo de Cinema Paradiso.

Além do visual e das músicas de Enio Morricone,  gostei do tratamento que o diretor deu ao drama da protagonista. É um história forte e triste, mas que foi tratada com muita sensibilidade e humor; sendo temperada ainda com a inocência da visão de um adolescente apaixonado. Porém, essa suavidade é deixada de lado em alguns momentos, e o espectador é tomado de emoção mais forte e incômoda quando Malèna passa por seus infortúnios. Nessas passagens, percebemos o quanto julgamentos precipitados e ações covardes pode afetar dramaticamente a vida de uma pessoa. 





Título Original: Malèna
País de Origem: Itália/EUA
Ano:
 2000
Duração: 92 min
Diretor: Giuseppe Tornatore
Elenco: Monica Bellucci, Giuseppe Sulfaro, Luciano Federico, Matilde Piana, Pietro Notarianni, Gaetano Aronica

quinta-feira, 8 de maio de 2014

DIÁRIO DA QUEDA


Depois de ler diversos livros bons e alguns ruins, confirmei a opinião de que, se a pessoa não tem nada de interessante a dizer, ela não deve se dar ao trabalho de escrever um livro. Parece que muitos escrevem por pura vaidade. Não é a vaidade que deve mover alguém a lançar uma obra; não se deve escrever por escrever; mas sim porque alguma ideia nova e importante se tornou forte e grande demais para ficar só na cabeça e exigiu que fosse passada para o papel. Não estou dizendo com essa opinião que o livro deve necessariamente ser denso; um tema leve também tem o seu lugar. Quero dizer que, em todo o caso, sendo leve ou denso, o livro deve ser criativo e original; deve dizer algo novo. 

Diário da Queda, de Michel Laub, enquadra-se na categoria de bons livros, aqueles que têm algo interessante a dizer, e que, no caso, também é denso. O autor nos apresenta uma história forte e reflexões inquietantes. O narrador e protagonista do Diário da Queda (cujo o nome não sabemos) decide, na fase adulta, registrar os acontecimentos mais importantes da sua vida, bem como compartilhar suas reflexões a respeito do paralelo que ele fez entre sua relação com o pai e a relação do seu pai com o pai dele. Entre os fatos importantes, estão aqueles que sucederam em parte de sua infância e de sua adolescência. Nessas fases de sua vida, tal protagonista, judeu e rico, estudou numa escola judaica, onde ele e seus amigos judeus perseguiam ostensivamente um estudante não judeu e pobre, que era bolsista na instituição. A vida desse protagonista é reorientada por conta de uma série de fatos desencadeada pela grave maldade que ele e seus amigos cometem contra esse colega perseguido.

Essa reorientação contempla também sua visão sobre o holocausto. O narrador, ainda na adolescência, toma conhecimento de um diário esquisito que seu avô - sobrevivente de Auschwitz, que veio morar no Brasil -, escreveu durante os seus últimos anos de vida. Esse senhor era um sujeito bem fechado e meio estranho, que nunca pareceu ter superado o trauma vivido no campo de concentração. A partir do momento que leu o tal diário, o narrador, que nunca sentiu o peso das perseguições sofridas pelos judeus, passa a respeitar e entender o holocausto contra o seu povo. Apesar disso, ele não deixa de questionar o comportamento do avô, principalmente em relação ao filho (pai do protagonista). É a partir desse questionamento que Laub nos brinda com belas e profundas contribuições. Ponderamos se uma atrocidade apenas ouvida da boca dos outros, por mais pesada que ela seja, supera a atrocidades, ainda que comparativamente não tão importantes, que você comete contra outras pessoas, ou se supera ainda as atrocidades que você sente na própria pele. Questionamos se um trauma, por maior que ele seja, pode valer mais que a vida de uma pessoa, sobretudo se essa pessoa for seu filho. De todo esse emaranhado, o narrador tira as suas interessantes conclusões.

Durante a leitura de Diário da Queda, eram frequentes os momentos em que eu parava para refletir sobre as ideias que o autor expunha. Ao fim, o livro me perturbou fortemente e até hoje me perturba, no sentido de me fazer pensar na vida, na relações com as pessoas e na relação com os meus filhos. Esse deve ser o papel da literatura. Ela deve nos impressionar de alguma forma. Não pode passar sem deixar rastro. E Diário da Queda deixou em mim alguns rastros profundos. Uma pena esse livro não ter recebido prêmios importantes. Com efeito, foi o vencedor da Copa da Literatura, que não deixa de ser um prêmio importante (os jurados são bem qualificados) e, até onde é possível, honesto, em razão da sua transparência (os jurados fazem resenhas e justificam o seu voto em determinada obra), mas é um prêmio informal, que se realiza na internet. Inclusive, na Copa da Literatura, ele fez a final com O Sonâmbulo Amador (já resenhado aqui) e ganhou. Achei a vitória justa; eu também votaria no Diário da Queda.  

Não, o livro não é perfeito, ao menos no meu ponto de vista. Laub poderia ter evitado um ou outro clichê. Outro problema é que ele escreve em períodos muito longos. A gente fica ansioso por um ponto final que não vem, e a oração se alonga, e se divide, e outra oração entra no meio; o resultado é que a leitura fica meio confusa e cansativa. Um terceiro problema é que, por conta de sua narrativa cíclica, acaba por haver muita repetição de pontos da história. E por falar em repetição, ele adora repetir palavras e isso incomoda um pouco. Por fim, ele utiliza um recurso que não me agrada nadinha, que são as listas; existem muitas e bem grandes. Ao menos, ele teve o bom senso de escrever um livro curto; porque se fosse longo, com todos essas características, provavelmente eu encontraria dificuldade para terminá-lo. Ainda bem que, quando o livro ameaçava ficar enfadonho, ele terminou. 

Porém, nenhum desses problemas compromete a qualidade do livro. Na verdade, eles ficam bem pequenos diante do potente conteúdo da obra. Embora não seja tão fã do estilo de Laub (parágrafo que parecem independentes, períodos longos, listas e repetição de palavras), eu gostei bastante do Diário da Queda. É uma leitura marcante. Impressiona porque o autor consegue extrair ideias novas de um tema tão batido como o Holocausto e nos fazer pensar sobre os impactos dessa atrocidade de uma forma bem atual. Se eu encontrasse o autor por conta de algum desses acasos da vida, faria questão de cumprimentá-lo e lhe dar os parabéns. Diário da Queda honra a literatura.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

MADAME BOVARY


Como é bom ler uma história bem escrita! Como é bom ler descrições bem feitas de pessoas, situações e cenários! Visualizamos os personagens, viajamos no enredo, vivemos as situações e nos emocionamos com os acontecimentos. Como é bom ler frases como essa: "... a palavra é um laminador que distende sempre os sentimentos." (pág. 277). E percepções como essa: "... pois que ninguém pode jamais dar medida exata às próprias necessidades, concepções ou dores, já que a palavra humana é como caldeirão fendido em que batemos melodias para fazer dançar os ursos, quando antes quereríamos enternecer as estrelas." (pág. 226). Ler tudo isso nos enleva. E tudo isso podemos encontrar em Madame Bovary, escrito por Gustave Flaubert.

Ema (Emma, a depender da tradução) torna-se Madame Bovary ao se casar com Carlos (Charles, a depender da tradução). Carlos é um médico esforçado, trabalhador, mas limitado intelectualmente, de maneira que tinha seus paciente, mas não avançava na carreira. Além disso, ele tinha personalidade fraca, era pacato, alimentava hábitos provincianos e lhe faltava ambição. Ema, ao contrário, era uma mulher requintada, ambiciosa e tinha um espírito sonhador, alimentado, em grande parte, pela leitura de romances sentimentais. Em pouco tempo, ela começou a se sentir presa num casamento que achava entendiante e passou a buscar a felicidade em outros homens. 

Percebe-se que não é uma história muito inventiva, mas por ser bem contada e por trazer de permeio debates e percepções importantes, o livro nos marca desde as primeiras páginas, quando o autor começa falando da experiência estudantil de Carlos, e acompanhamos esse personagem com atenção para saber quando e como a tão famosa Madame Bovary do título vai aparecer na trama.

Por falar em personagens, não gostei de Carlos, achei-o muito "zé mané". Ema tampouco me impressionou. Achei-a muito sonhadora e meio afetada. Mas entendo a grande repercussão e fama que ela alcançou. Era uma mulher decidida, questionadora e corajosa, que não hesitava em fazer o que lhe desse na cabeça, algo pouco comum às mulheres de sua época, mesmo na França. O livro, que hoje não levantaria tanta polêmica, causou escândalo nesse país, quando de sua publicação (meados do século XIX), tendo Flaubert ido a julgamento, do qual saiu absolvido. A alegação era atentado à moral e aos bons costumes por tratar o adultério de maneira tão direta e aberta, bem como por criticar a Igreja Católica. 

De fato, como muitos escritores, Flaubert escreveu Madame Bovary com o claro propósito de causar polêmica e de chamar atenção para as ideias que tinha a respeito da burguesia, da literatura, da religião e das mulheres; mas o fez com muita inteligência, elegância e maturidade. Não é como alguns escritores medíocres que acham que o fato de levantar polêmica por si só é o suficiente para tonar o seu livro bom. Madame Bovary está bem além dessa polêmica vazia, por isso esse livro é bom de verdade. Quer dizer, ele é ótimo. 

Título: Madame Bovary
Tradução: Enrico Corvisieri
Editora: Nova Cultural
Ano: 2003

segunda-feira, 7 de abril de 2014

NÓS QUE NOS AMÁVAMOS TANTO


Sou fã dos filmes de Ettore Scola. Dos cinco que eu vi (Esse, O Baile, O Jantar, A viagem do Capitão Tornado e Feios, Sujos e Malvados), gostei de todos. Nós que Nos Amávamos Tanto não é só o meu preferido dele, mas como é um dos meus preferidos em geral. De maneira bem leve e natural, nos é apresentado um filme engraçado, comovente e profundo.

Antônio, Nicola e Gianni se conheceram durante a Segunda Guerra Mundial e tornaram-se muito amigos. Com o fim do conflito, eles tiveram que tomar caminhos diferentes na vida. Anos mais tarde, por força das circunstâncias, eles se reencontram; porém, um novo elemento (Luciana, então namorada de Antônio) vai remodelar a relação dos três.

Nesse filme, Scola parece querer nos passar o recado de que o Cinema, como arte, não pode abrir mão de seu papel de informar o público, de fazer críticas, de propor discussões no sentido de buscar mudanças na sociedade. Não foi à toa que, em Nós que Nos Amávamos Tanto, ele usou o recurso metalinguístico e fez referências a filmes consagrados, produzidos por grandes diretores italianos, como Ladrões de Bicicleta, do De Sica, e A Doce Vida, do Fellini.  Na verdade, não há só referências a esses diretores, mas eles próprios fazem uma participação especial na produção. Fellini, por exemplo, aparece dirigindo a simulação das gravações de A Doce Vida. Em outros trechos com metalinguagem, Scola aproveita sua obra para mostrar a evolução técnica do Cinema italiano e sua influência na sociedade. Um exemplo do primeiro caso é que o filme se inicia em preto e branco (no momento da guerra) e, a certa altura da história (anos 60), ele passa a ser exibido em cores. Do segundo caso, há um concurso televisivo do tipo Show do Milhão, que envolve toda a Itália em torno do desempenho do personagem Nicola, que responde a perguntas sobre o Ladrões de Bicicleta.

Firme no propósito de fazer diferença no mundo com o Cinema, em Nós que Nos Amávamos Tanto, Scola nos apresenta um cenário em que discussões sobre a amizade, o amor e os valores morais são os principais temas. A amizade subsiste a uma traição amorosa? E se a traição se der no terreno dos ideais? O amor tem que necessariamente nascer de uma paixão ou ele pode ser construído com o amadurecimento da convivência? Até que ponto permaneceríamos inabaláveis em nossos princípios, caso nos sentíssemos ameaçados de perder o emprego ou uma grande soma de dinheiro? Até que ponto se agarrar a um ideal vale a pena? Ainda que angustiados e atormentados por um sentimento de culpa, o dinheiro poderia nos prover o consolo necessário para calar nossa consciência?

Mesmo com tantas indagações importantes, não espere um filme pesado. Como eu disse, Scola geralmente aborda suas temáticas, ainda que densas, com muita leveza e humor. O filme é muito divertido e proporciona momentos de boas risadas. Contudo, mesmo nessas passagens cômicas, ou somos tomados de comoção ou somos tomados de pesar, uma vez que - por trás das piadas e dos sarcasmos - há sempre um convite à reflexão.

Filme magnífico!

Ficha Técnica
Gênero: Drama/Comédia
Direção: Ettore Scola
Roteiro: Agenore Incrocci, Ettore Scola, Furio Furio Scarpelli
Elenco: Aldo Fabrizi, Federico Fellini, Marcello Mastroianni, Nino Manfredi, Stefania Sandrelli, Stefano Satta Flores, Victorio De Sica, Vittorio Gassman
Produção: Adriano De Micheli, Pio Angeletti
Fotografia: Claudio Cirillo
Trilha Sonora: Armando Trovajoli

P.S. Não achei o trailer 

sexta-feira, 28 de março de 2014

FIM - FERNANDA TORRES



Por acaso soube que a Fernanda Torres tinha lançado um livro. Fim é o nome da obra. Ela é uma ótima atriz de comédia; é bem engraçada; então, ao ver um exemplar na prateleira de uma livraria, cedi à curiosidade e li o seu primeiro capítulo. Assim que tive a chance, pesquisei para ver qual era a opinião da crítica sobre o livro. E não é que era totalmente contrária à minha! Fiquei pensando: "Será que não o li direito? Será que estou tão errado assim? Não é possível!" Tive que comprá-lo para saber se eu mudaria de ideia. Li e reli. Não adiantou. Minha impressão não mudou nadinha: o livro é bem fraco. 

Antes de detalhar minha opinião, vamos para o que a disse a crítica: 

"O Título é Fim, mas o livro trata mesmo é da vida - plena, forte, caliente e safada." João Moreira Salles

"Alternando técnicas narrativas, com destaque para magistrais instâncias de fluxo de consciência, Fim captura brilhantemente a dramática oscilação de tristezas e ilusões." Antonio Cícero (grifo meu)

"Fernanda Torres estreia na ficção com voz incrivelmente madura, modulada, capaz de transformar histórias noturnas de velhice e morte numa ensolarada comédia carioca de costumes." Sérgio Rodrigues (grifo meu)

Pois é. Foram manifestações hiperbólicas como essas que encontrei na contracapa do livro. Ok! Na contracapa não vale, pois, por serem encomendas ou serem de amigos, padecem de suspeição. Concordo. Então fiz buscas na internet e encontrei opiniões como essas:

"A escrita densa de Fernanda Torres destrincha com sarcasmo os mecanismos mentais desses 'Cavaleiros do Apocalipse' que violentam seus valores 'burgueses' ao preço do rancor e da crueldade." (Link

Essa análise foi mais comedida, porém, lá embaixo, na avaliação, outro exagero: o crítico classificou o livro como Ótimo. Tudo bem! Fernanda Torres também é colunista da folha, o que torna a análise de um colega  um pouco suspeita. Vamos para o que pensam os críticos independentes. Achei isso:

"...comprei Fim e li suas exatas 200 páginas de uma sentada, num domingo. E tenho dito: o livro contém um grau alarmante de surpresa para o leitor. É deslumbrante." (Link) (grifo meu).

Confesso que ler tais palavras me deixou assustado: "magistral, brilhantemente, incrivelmente, ótimo, deslumbrante". Fiquei pensando como esses mesmo críticos classificariam as obras de Machado de Assis, Kafka, Hilda Hilst, Clarice Lispector. Pois vou usar esses autores como referência para fazer minha análise da obra de Fernanda Torres. Alguém poderia dizer que isso é maldade minha. Que seja. As críticas que eu li me deram essa licença; pois, para mim, magistral, incrível, ótimo, deslumbrante são as obras escritas por esses nomes consagrados que citei. E olha que eu não me identifico com o estilo de Hilda Hilst e Clarice Lispector, mas reconheço a genialidade dessas escritoras. 

Vamos para a minha impressão a respeito da obra de Fernanda Torres. Que dizer... Já dei minha opinião: o livro é bem fraco! É ruim mesmo! Então, vou detalhar o que penso sobre esse livro. Vou fazê-lo em tópicos. Antes, porém, o conteúdo da obra. Fim conta a vida de cinco amigos e a relação entre eles. São homens que viveram sua juventude nos anos 60 e 70 no Rio de Janeiro, e que, a partir dos anos 90, passam, um a um, a se encontrar com a morte. Cada um desses cinco amigos faz um relato em primeira pessoa de sua vida e de seus últimos momentos antes de morrerem. Entre o relato de um e de outro, o livro mostra a vida de pessoas que de alguma maneira foram importantes para eles (mulher, filha, filho, padre, enfermeira). Dizem que Fim é romance, mas tenho dificuldade em classificá-lo assim. Para mim, é uma coletânea de contos. Passemos, então, aos tópicos das razões porque achei a obra ruim.

1 - Falta uma história -  Bem, na verdade, isso não é propriamente um defeito. É mais uma questão de gosto pessoal: prefiro livros com boas histórias. Uma boa trama nos envolve na leitura, nos faz mergulhar na vida dos personagens, nos ajuda a visualizar as situações descritas; além disso, nos permite avaliar a criatividade habilidade do autor em concatenar os fatos de maneira coerente e coesa. Obras sem história, geralmente, ficam girando em torno de reflexões que, às vezes, cansam. Por tudo isso, não gosto de ficção que não tenham encadeamento de fatos que gerem um enredo bem claro. Mesmo não gostando, não posso negar que muitos livros que não têm histórias são bons, mas esses apresentam reflexões profundas, inteligentes e instigantes. Por exemplo, existem obras de Kafka, Hilda Hislt e Clarice Lispector que não trazem uma história em si, mas que nos envolvem em pensamentos realmente ricos e importantes. Já Fim, além de não ter uma trama (são fatos sem encadeamento), não traz nenhuma reflexão profunda. Os pensamentos são bem comuns.  O mais profundo que encontrei foi isso: "O ato supremo de romantismo é o suicídio" (pág. 120); ou isso (ao ela falar sobre a morte no enterro de um desses cinco amigos): "A finitude de Ciro pairando ameaçadora sobre a consciência dos três. Quem será o próximo? O simples fato de não quererem o pior para si mesmo implica desejar o pior para os outros dois" (pág. 151). Cá entre nós, nenhuma das duas é uma percepção muito elaborada. Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, ao descrever uma morte só, nos presenteia com ideias fabulosas sobre esse estado desconhecido; já Fernanda Torres descreve seis e não acrescenta nada de importante. Daí vem um crítico falar que a Fernanda Torres teve a mesma picardia do Machado de Assis ao colocar um morto para falar de sua vida! Brincadeira! É muita crueldade, para uma escritora iniciante, ser comparada a Machado de Assis.

2 - Personagens caricatos - Fernanda Torres cria cinco caricaturas e passa o livro inteiro retocando-as. Álvaro é o chato, brocha, que não se dá bem com as mulheres. Sílvio é o porra-louca, tarado, inconsequente. Ciro é o homem perfeito, bonitão, bom em tudo, que desperta o interesse de todas as mulheres; nenhuma resiste a ele. Ribeiro é o zé mané, esportista, que se interessa por menininhas e toma viagra para se manter ativo sexualmente. Neto é o bom moço, sujeito comum, conservador. Pois, a todo momento, em todos os relatos - tanto dos amigos como das pessoas a eles relacionadas -, as características marcantes dos cinco são ressaltadas. Ficou maçante. Um exemplo bem emblemático dos esteriótipos existentes no livro é o de uma personagem de participação bem pequena, uma enfermeira de nome Gisa. Assim ela é descrita: "Gisa era de esquerda, politizadíssima, prestava serviço social, lia livros que pesavam mais de um quilo e fumava na varanda do segundo andar." (pág. 191). Mais a frente, a autora arrematou: "Gisa não via sentido em chorar a morte de um burguês." (pág. 196). Por conta desse tipo de abordagem, vi apenas caricaturas e não pessoas. Por isso, tive dificuldade em me identificar com eles; não consegui visualizá-los mentalmente. As exceções ficaram por conta do Álvaro e do Padre Graça; mas, ainda assim, foram uma visualização e uma identificação bem pálidas.

3 - Ela abusa de clichês - O tema em si já é um. Retratar os velhinhos de Copacabana que, na juventude dos anos 60 e 70, eram os transviados, os paladinos da contracultura, é uma assunto que já foi explorado demais. Outros lugares-comuns no livro: questionar tudo que fez na vida bem na hora da morte, a discussão se o homem deve respeitar a amizade caso o amigo tenha interesse na mesma mulher, a visão esteriotipada em relação aos comunistas e às pessoas de direita, um padre em conflito espiritual, a fuga para o meio do mato para fazer trabalhos sociais como forma de tentar reencontrar o seus ideais, a beleza do Rio de Janeiro, a rotina do casamento. Temáticas muito batidas. Até podemos explorar temáticas batidas, desde que apresentemos uma visão ou abordagem diferentes a respeito do assunto. Não foi o caso de Fim. Engraçado que há um trecho em que uma personagem critica mentalmente o porteiro do prédio porque ele usa, num velório, um monte de clichês a fim de se referir à morte. Mas criticar os clichês usados em enterros por si só já é um clichê. Outros me lembraram cenas de novela. Olha esse exemplo: o homem que passa mal no banheiro, se segura na cortina e essa cede, vindo ele a cair no chão. Outro: a mulher que se entrega despreocupadamente à dança para esquecer os problemas. E esse também: o homem que, pego em flagrante adultério pela mulher,  foge do local, vai para casa, troca de roupa e senta no sofá; quando a mulher chega e o aborda, ele nega tudo e diz que ela está louca e imaginando coisas. O último: o casal que se conhece numa roda de violão e ali começa um romance. Esse último, por sinal, tem cara de roteiro da novelinha Malhação. Sobre o encontro do tal casal, selecionei esses trechos: "A Ruth atacou a voz de mulher, o Ciro a do homem, e os dois terminaram juntos, aplaudidos de pé, para sempre apaixonados" (pág. 104); "Senhor absoluto da cena, Ciro raptou a rainha com perícia de Eros. Muito casais se formaram naquela noite, atiçados pelo testemunho do encontro." (pág. 114). É muita pieguice! Se ela não tirou isso de malhação; na melhor hipótese, foi das sebosas novelas do Manoel Carlos. Não dá! Um bom livro não tem tantos lugares-comuns. 

4 - Fórmula desgastada da narrativa - A crítica elogia a narrativa de Fernanda Torres como se fosse algo inovador. Não precisa conhecer muito a literatura brasileira contemporânea para perceber que a fórmula que ela usa já está bastante desgastada. Linguagem coloquial, palavrões, frases curtas, sarcasmo, ironia, humor cáustico, instâncias de fluxo de consciência; tudo isso já foi usado, até com um pouquinho mais de competência, por autoras como Luisa Geisler, Állex Leila e Márcia Denser, só para citar três nomes. Inclusive, esse estilo tem se tornado comum na literatura brasileira atual, principalmente no que diz respeito aos contos. Por falar em fluxo de consciência, devo adiantar que é um técnica que não me agrada. Acho enfadonha, confusa, empoada. Mas não é por isso que não sei reconhecer quando ela é bem utilizada. Agora considerar o fluxo de consciência empregado por Fernanda Torres como magistral só pode ser piada. São passagens absolutamente comuns; já vi melhores nas três autoras acima citadas (e olha que, nem nas obras dessas, eu achei lá essas coisas). Apesar de não apreciar a técnica, não posso deixar de reconhecer que magistrais são os fluxos de consciência empregados por Hilda Hilst e Clarice Lispector. 

5 - Número interminável de listas - Não consegui contar todas as enumerações existentes em Fim. Só para se ter uma ideia, nas páginas 198 e 199, em cinco parágrafos, contei oito listas. É demais! É um recurso pobre e irritante; ele trava a leitura. Listas são inevitáveis em alguns momentos, principalmente quando se descreve pessoa ou local; só que ela usou em excesso. Vejam: "Deus se transmutando no próprio planeta, nas correntes de ar, nas nuvens densas, no sol inclemente, na lua, nos temporais" (pág. 198). "Dormiu ao relento, teve medo de bicho, de gente, foi assaltado..." (pág. 198). "...sentiu febre, frio, fome e sede." (pág. 198). "...Oiapoque, Boca do Acre, Lábrea, Manicoré, Aripuanã, Parecis, Jaciara". (pág. 199). "Acostumou-se com o mormaço, os insetos graúdos e as cobras, com os barulhos da noite e as brincadeiras truculentas dos nativos" (pág. 199). "...crimes contra a natureza, serras elétricas, tratores, correntes e venenos de praga" (pág. 199). Já está bom, né? Ao longo do livro, encontramos outras muitas enumerações. Não me espantaria se alguém me dissesse que contou mais de cem.

6 - Excesso de chavões - Sei que essa palavra tem o mesmo significado de clichê, mas usei "chavão" separadamente para fins didáticos. Destaquei esse termo só para me referir àquelas expressões repetidas demais pelo uso popular, que, por isso mesmo, devem ser evitadas num texto formal, mais ainda no livro, ainda que o estilo seja coloquial. Seu uso empobrece o texto. Fernanda lançou mão de vários chavões. Vou dar um desconto à escritora e vou ignorar aqueles presentes nas falas em primeira pessoa, pois alguém poderia alegar que, nesses casos, o chavão fazia parte do relato coloquial da personagem. Tudo bem. Vamos então para os que aparecem no discurso em terceira pessoa: "Álvaro ainda lhe revirava o estômago" (pág. 32). "O pensamento vagara..." (pág. 34). "Era a gota d'água" (pág. 43). "...tarefa hercúlea" (pág. 45). "...tomaram proporções catastróficas" (pág. 50). "...fez suas pernas bambearem e o coração palpitar" (pág. 51). "Não esbocei reação..." (pág. 67). "...lhe dava ânsias de vômito" (pág. 87). "Encontrara a sua razão de ser" (Esse para mim foi um dos piores). (pág. 116). "...cuidado de quem carrega um cristal..." (pág. 119). "...ameaçou vir à tona e transbordar" (pág. 121). "...dera o tiro de misericórdia..." (Esse também acertou em mim) (pág. 197). Não dá!

7 - Muitos conflitos tinham a mesma essência - Na hora da própria morte ou do outro, os velhinhos começavam a questionar seus amores. Para Irene: sinto ou não sinto falta de Álvaro? Para Ribeiro: amo ou não amo Suzana? e Amo ou não amo Ruth? Para Neto: amo ou não amo Célia? Para Ciro: amo ou não amo Ruth? Quem fugiu disso foram Álvaro e Sílvio, que tiveram reflexões mais interessantes na hora da morte.

8 - A autora abusa de citações de nomes consagrados, de suas obras ou de seus pensamentos - Ela citou em demasia filósofos, escritores, cantores, músicos, compositores. Nietzsche, Platão, Aristófanes, Dante, Flaubert, Machado de Assis, Vinícius, Jobim, Bob Dylan, Noel Rosa, Nara, Bethânia, Elis Regina. Se esse recurso não for bem utilizado, fica pedante. Nos passa a ideia de que ela se valeu dele só para exibir erudição. Para mim, a Fernanda não soube usá-lo. Suas citações ficaram bem pedantes.

9 - Humor fraco - Nem ao menos nesse quesito o livro escapou. Poderíamos esperar que a escritora mostrasse tiradas engraçadas e inteligentes, mas não foi o caso. Não achei graça das piadas. O tal sarcasmo não era tão inteligente e engraçado. Na verdade, não é diferente do que tanto vemos por aí. Alguém acha graça nisso? "'Idoso,' palavra odienta. Pior só 'terceira idade.''' (pág. 13). E nisso? "Olha aí, outra vez, a pedrinha traiçoeira atrás de me pegar. Um dia eu caio, hoje não." (pág. 13). "Amei minha filha até ela completar cinco anos, depois não aguentei a histeria dela, da minha mulher com ela, dela com as empregadas." (pág. 16). Não consegui dar uma risadinha sequer.

10 - Vício em sinônimos - Ela usou demais o recurso de repetir sinônimos (ou palavras de sentido aproximado) em sequência para enfatizar uma ideia. Exemplo: "Ele é um zero, um nulo, um nada". (pag. 33).

11 - Falta originalidade - Fernanda Torres não apresenta nenhuma novidade. Não traz nenhuma ideia nova, nem na forma, nem no conteúdo. A grande quantidade de lugares-comuns diz isso por si só.

Enfim, na minha opinião, é um livro cheio de problemas. E nada se salva? Algumas passagens se salvam, sim. Por exemplo, embora apresente alguns lugares-comuns, as partes que retratam a vida e os dilemas do Padre Graça, principalmente o final que ele teve. Outro trecho bom é o diálogo entre Ciro e a enfermeira Maria Clara (o que se encontra nas páginas 188 e 189). E se salvam ainda alguns momentos do relato em primeira pessoa do personagem Álvaro. O resto, a meu ver, não funcionou. A ideia de cada personagem contar sua versão dos fatos e a inserção de relatos sobre a vida das pessoas próximas a eles resultou num livro repetitivo e maçante. Não entendi mesmo tanto sucesso de crítica que ele obteve. Compartilho da opinião do crítico, Euler de França Belém, o livro é ruim, mas "está sendo apresentado como romance de primeiro time." Pois entendo que Fim deveria disputar a terceira divisão, brigando para não cair.

É tentador, mas não...não vou fazer nenhum trocadilho com o nome do livro. Acabo aqui a resenha.

quarta-feira, 19 de março de 2014

PALAVRA CANTADA


Uma tem cara de tia chata (daquelas mal-humoradas, que vivem dando bronca em crianças), que ostenta um sorriso que não convence ninguém de uma possível bondade que ela teria guardada bem lá no fundo. Outro tem cara do tiozão gente boa, que se esforça bastante, mas não leva o menor jeito com criança.  E não é que esses dois formaram uma dupla musical e escolheram, como público, justamente o infantil?! E não é que deu certo?! Não poderia ser de outra forma, porque a Palavra Cantada, o nome de tal dupla, faz músicas infantis de muita qualidade. 

Com arranjos elaborados, belas melodias e ótimas letras, Paulo Tatit (que me lembra muito o Fagner) e Sandra Peres (que me lembra qualquer mulher malvada de filme infantil) conquistaram as crianças e os adultos também (eu, aos menos, gosto de ouvir a Palavra Cantada). Outro fator que explica seu sucesso foi o fato de resgatarem músicas folclóricas, o que trouxe boas lembranças aos pais e aos avós. E, como essas músicas nunca vencem, as crianças também gostaram.

As letras são muito boas: simples, ricas e bem humoradas. Muitas fazem piadas com a sinceridade das crianças e retratam, com bom humor, a realidade da relação que temos com elas. O bom das composições dessa dupla é que elas são singelas, como os pequenos gostam, mas sem aquela melosidade e aquele arranjo pobre que tanto irritam os adultos. Eis exemplos:

Amo o vovô e a vovó, eles me tratam com carinho e pão-de-ló
Mas agora vejam se me deixem em paz
Só quero a mamãe, só quero o meu papai.
(trecho da música: Só quero a mamãe e o papai)


Criança não trabalha, criança dá trabalho
(trecho da música: Criança não trabalha)


Hoje eu sinto que cresci bastante

Hoje eu sinto que estou muito grande

Sinto mesmo que sou um gigante

Do tamanho de um elefante

(trecho da música: Aniversário)


O que que tem na sopa do neném?
O que que tem na sopa do neném?

Será que tem alho-poró?

Será que tem sabão em pó?!

Será que tem repolho?

Será que tem piolho!?

É um, é dois, é três...

(trecho da música: Sopa)

Se você ainda não conhece a Palavra Cantada, confira o trabalho deles. Vale muito a pena apresentar aos seus filhos. Se é para ouvir as músicas centenas de vezes (sabem como são as crianças, né?rsrs), que seja algo de qualidade.

Seguem vídeos das músicas citadas acima.

Só quero a mamãe e o papai.


Criança não trabalha



Aniversário


Sopa