segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O CAÇADOR DE PIPAS - LIVRO



Sucesso mundial de vendas no começo da primeira década do atual milênio, esse livro só chegou às minhas mãos recentemente. Logo vi que essa obra deveria ser encarada como o que ela realmente é: uma forma simples de retratar uma história, sem recorrer a grandes reflexões filosóficas, nem a refinadas críticas políticas ou sociais, muito menos a grandes manobras linguísticas ou inovação na forma. Não espere nada denso ou profundo como, só para ficar em dois exemplos,  Crime e Castigo (Dostoiévski) ou Ensaio sobre a Cegueira (José Saramago). Não é livro para discussões acadêmicas. Poderíamos dizer que é um livro do tipo mais popular, para matar o tempo.  Percebe-se isso logo nas primeiras linhas por conta da linguagem simples adotada pelo autor. Enfim, O Caçador de Pipas não tem estofo para para se tornar um grande clássico da literatura, como Cem Anos de Solidão (Gabriel García Márquez), para citar outro exemplo. Todavia, enxergando-o como de fato ele é, O Caçador de Pipas pode ser uma boa experiência de leitura. 

Eis um pequeno resumo: Amir e Hassan têm, ao mesmo tempo, uma relação de amizade e de patrão/empregado. O primeiro é filho de um homem rico e importante na cidade de Cabul, Afeganistão. O segundo é filho do empregado da família do primeiro. Como moram no mesmo lote, eles crescem e brincam juntos e se tornam muito próximos. Contudo, algo abala esse equilíbrio: no começo da adolescência, Amir falha com seu amigo, que passa por um terrível infortúnio. A partir desse dia, o fantasma da culpa passa a perseguir Amir. O título do livro deve-se à habilidade de Hassan em apanhar as pipas que eram cortadas nos campeonatos desse tipo de brinquedo que ocorriam anualmente em Cabul. É correndo atrás de uma pipa, num desses campeonatos, que Hassan vive sua desventura. 

Como todo livro mais popular, O Caçador de Pipas apresenta na sua fórmula: personagens um tanto simples, frases de efeito, tom mais emotivo e drama mais carregado. O problema é que muitas vezes esse forte apelo emocional esbarrou no sentimentalismo barato e ficou piegas; e isso me incomodou. Frases de efeito de cunho sentimental contribuíram para esse toque mais piegas, como essa frase aqui: "Por você eu faria isso mil vezes." Por vezes, o autor também errou a mão no drama; e, em muitos momentos, a história ganhou ares de dramalhão hollywoodiano com pitadas de novela mexicana; tudo por conta de coincidências inacreditáveis e artificiais, que deixaram algumas situações um tanto inverossímeis. 

Achei ainda que essa grande culpa que Amir carrega por todo o livro foi supervalorizada. Tenho para mim que ninguém ficaria tão perturbado, por tanto anos, por algo que fez no começo da adolescência, período em que invariavelmente fazemos alguma bobagem. De fato, o erro de Amir foi bem grave, mas para mim não o suficiente para justificar o pesar tão grande que o personagem sente por boa parte de sua vida.

A grande virtude do livro é sua honestidade. Ele não quer ser o que não é; não quer nos enganar. Me irritam livros que tentam vender uma profundidade que não têm. Já que dei exemplos antes, aqui vai um de um livro enganador: Fim, escrito por Fernanda Torres (já resenhado nesse blog. Link aqui). O Caçador de Pipas não apela para esse recurso, e isso é bom porque nos desarma, e nos abrimos para acompanhar, sem grandes preocupações intelectuais, uma trama muito triste, cheia de dramas e reviravoltas, que tem como pano de fundo as guerras pelas quais passa o Afeganistão bem como as transformações políticas e sociais decorrentes das crises vividas por esse país. Foi interessante conhecer um pouco mais da cultura do Afeganistão e os problemas que ele enfrentou.

Descontando o excesso de drama e coincidências difíceis de engolir, é um bom livro para quem deseja se distrair e se emocionar. Khaled Hosseini consegue contar um boa história: forte e triste; surpreendente em alguns momentos, previsível em outros; trágica em muitas passagens, bonita em outras poucas. O final foi bem tocante e me surpreendeu. Eu esperava algo bem sentimental como foi na maior parte do romance, mas fui surpreendido e tocado por um arremate bem sereno e bonito.

Um comentário:

  1. o livro tem mesmo um tom bastante emotivo, por vezes piegas, mas acho que no geral foi uma obra feliz. Muito tocante.

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