quarta-feira, 30 de outubro de 2013

GRANTA - OS MELHORES JOVENS ESCRITORES BRASILEIROS


A minha experiência da leitura de Quiça, Luísa Geisler, não foi das mais positivas; ainda assim, ou por isso mesmo, resolvi me inteirar do que está acontecendo na literatura brasileira contemporânea. Para isso, fiz algumas pesquisas e deparei com a notícia de que uma prestigiada revista literária inglesa, Granta, tinha lançando, em 2012, um livro com os vinte melhores escritores brasileiros abaixo dos 40 anos, que tivesse ao menos um conto publicado. O livro é uma coletânea que traz um texto de cada autor ou autora selecionado (a), podendo ser um conto ou o trecho do livro a ser lançado por ele ou por ela. Nada melhor do que um livro como esse para tomar pé da situação.

Pois bem, vou dizer o que achei de cada conto/trecho de forma bem resumida. Citarei o nome da obra com o autor entre parênteses e, em seguida, emito minha opinião. Confesso que fiquei preocupado com o nosso cenário literário atual e futuro porque, para o meu gosto, os bons de verdade foram a minoria esmagada. Mas não me levem muito a sério, é só a opinião superficial de um leigo. De repente, quem fez a seleção, por ter um olhar técnico, enxergou qualidade onde eu não vi. Para não ficar uma postagem muito grande, vou dividir minha resenha em duas. Hoje comento 10 escritores e amanhã os outros 10 restantes. Vamos lá!

1 - Animais (Michel Laub) - Bom, gostei do conto. Não arrebenta, mas é bom. A história é bem simples: o homem faz reflexão sobre sua vida e se lembra da relação com o pai, dos amigos que morreram e dos animais de estimação que teve e morreram, especialmente de um cachorro que foi morto pelo doberman do vizinho. A linguagem do autor é direta e bem simples e, em alguns poucos momentos, beira o juvenil, mas funciona bem. Ele tem um estilo bem próprio e marcante. Inova ao escrever em parágrafos numerados, que às vezes não tem relação direta uns com os outros, mas que juntos constroem a trama. Percebe-se maturidade e domínio da narrativa. Contudo não se enganem, apesar de simples, o texto não é vazio e apresenta boas reflexões. O final foi sutil, mas impactante. Leria um livro dele.

2 - Aquele Vento na Praça (Laura Erber) - Gostei bastante desse conto. Bem escrito, linguagem elegante, história diferente, tema original. Um artista plástico aceita a incumbência de ir a Bucareste comprar obras esquecidas do artista Paul Neagu. Lá ele conhece uma camponesa cujo pai, um homem com problemas psiquiátricos, guardava obras de Neagu. Achei interessante. Leria um livro dela.

3 - Antes da Queda (João Paulo Cuenca) - Trecho do próximo romance do autor. Nesse texto, ele fala da cidade do Rio de Janeiro. Desse não gostei. Achei a escrita meio amarrada, pesada. O texto tem mais cara de um manifesto do que de um romance. Não me interessou; não leria esse livro.

4 - O Que Você Está Fazendo Aqui (Luísa Geisler) - Vocês podem achar que é perseguição, mas não é. Tento ter boa vontade com a menina, mas não dá; não gostei nada desse conto. Sei que o ritmo acelerado que ela adotou foi para combinar com a vida agitada do personagem, que vive viajando o mundo para lá e para cá, mas para mim não funcionou. Muito seco, muitos cortes bruscos, muitas enumeração de objetos e atitudes. Ficou confuso. Não me liguei à história tampouco ao personagem. Sem falar na repetição chata e aparentemente sem sentido (deve ter sentido, mas não quis perder meu tempo matutando para entender qual seria) da palavra Weltanschauumg, que não sabia o que significava (em pesquisa, vi que significa visão de mundo ou concepção do mundo) e não podia pesquisar enquanto lia. Ou seja, esse recurso estilístico só atrapalhou a leitura. Para não dizerem que não gostei de nada, gostei dessa colocação: "Laços de nacionalidade não são laços de identificação." Achei a sentença bacana, com a qual concordo totalmente. Já li um livro dela e não gostei da experiência. Não leria algo dela novamente.

5 - Tólia (Ricardo Lísias) - Conto bacana, porém não me conquistou totalmente. A linguagem é simples, mas não é pobre; a leitura flui bem; no entanto a história não me convenceu. O cara abandona a literatura e vai para Moscou com o objetivo de se aperfeiçoar no xadrez e acaba numa comunidade mística no Cazaquistão. O começo vai até bem, mas, depois que ele chega a Moscou, o desenrolar da trama fica meio apressado e perde energia. O final achei bem fraco. Estou na dúvida se leria um romance dele; acho que sim.

6 - Apneia (Daniel Galera) - Muito bom. O melhor pedaço do livro. Como não prestei atenção ao texto introdutório que apresenta o autor e a obra, li achando que se tratava de um conto, e até poderia ser, pois parece haver um desfecho. Contudo, na verdade, se trata do trecho de seu romance, que já foi lançado, Barba Ensopada de Sangue. O texto é muito bom, bem escrito. É o diálogo entre o pai que comunica que decidiu se matar e o filho que tenta convencê-lo a abandonar a ideia. O diálogo é excelente e parece bem real. Consegui visualizar os dois personagens conversando. Pretendo ler o Barba Ensopada de Sangue. Esse promete.

7 - Valdir Peres, Juanito e Poloskei (Antonio Prata) - Achei esse conto bem divertido. Fala da infância da década de 80, dos brinquedos e da brincadeiras daquela época, e fala como a ascensão econômica de alguns amigos afetou a relação entre esses e os outros que não ganharam tanto dinheiro. Leve e bem escrito; me lembrou bastante minha infância; leitura sem compromisso. Gostei. Talvez lesse um livro dele.

8 - O Jantar ( Júlian Fuks) -  Não gostei. Numa linguagem empolada e enrolada, ele fala muito sem dizer nada. Achei o conto pretensioso e superficial. É a história de um homem que vai jantar na casa da tia argentina, em Buenos Aires, e discute com ela sobre a ditadura militar não só na Argentina, como também na América Latina como um todo. Achei bem chato; leitura maçante. Não leria um livro desse escritor.

9 - Noites de Alface (Vanessa Barbara) - É o trecho de seu próximo romance. Nem procurei saber se o livro já foi lançado, pois achei esse trecho bem sem graça; não me chamou atenção. Fala de um idoso que se vê sozinho, numa vida sem sentido, depois da morte da mulher. Parece escritora iniciante. Não me deu a menor vontade de ler esse livro.

10 - Mãe (Chico Mattoso) - É um conto sobre o sentimento do filho em relação à mãe. Começa com o cara imaginando a morte da mãe. Achei sem graça e vazio. Não conta nenhuma história interessante; não traz nenhuma reflexão interessante; não apresenta nenhuma novidade. Era um tema que poderia ser bem explorado, mas ficou no mais do mesmo. No conto, a mãe fica só no plano imaginário, o que a deixa muito distante do leitor, e isso dificulta a empatia com o personagem; não consegui comprar os sentimentos dele.

Hoje fico por aqui. Amanhã comento os outros 10.

Até amanhã.


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