quinta-feira, 2 de agosto de 2012

NOIR DESIR


Para não dizerem que só coloco cantores franceses antigos, hoje vou postar um contemporâneo, no estilo rock. Tratar-se de Noir Désir, banda francesa de rock que mais fez sucesso na França e considerada, por muitos da crítica, a melhor que já apareceu no país nesse gênero musical. Uso os verbos no passado porque o grupo já não existe mais. Entrarei em detalhes sobre o seu fim mais adiante. Vou antes trazer um resumo da sua história.

Noir Desir foi formado no início da década de 80 pelos músicos: Bertrand Cantat (voz e guitarra), Denis Barthe (bateria), Serge Teyssot-Gay (guitarra) e Frédéric Vidalenc (baixo), esse último substituído por Jean-Paul Roy depois de 1996. Eles conheceram o sucesso com o seu segundo disco, Veullez rendre l'âme (à qui elle appartient), lançado em 1989, graças à canção Aux sombres héros de l'amer, que foi muito tocada nas rádios francesas, projetando a banda no cenário musical do país. Os dois álbuns seguintes (Du Ciment sou les Plaines e Tostaky) não tiveram a mesma repercursão midiática, mas o grupo continuou a fazer sucesso nos shows.

Em 1997, Noir Desir volta com força às rádios com as canções Un jour en france e L'Homme pressé, presentes no quinto álbum (666.667 Club), e com Le vent nous portera, do seu último álbum de estúdio, (Des visages des figures). Essa última música ficou, durante muito tempo, entre as mais tocadas na França.

No campo político, Noir Desir caracterizou-se por ser um grupo militante e engajado. Nas suas letras, protestava contra o capitalismo selvagem e contra o xenofobismo. Nesse último aspecto, aproveitava suas aparições públicas para deixar claro quais eram suas opiniões, criticando a postura dos políticos franceses de extrema-direita.

Chegamos, então, à parte que trata do início do fim do grupo, marcado por um fato trágico e lamentável, envolvendo o vocalista Bertrand Cantat. Em 2003, num episódio ainda não muito bem esclarecido, Cantat, durante uma forte discussão com a namorada, agride-a severamente . Alguns dias depois, ela morre em decorrência das agressões. Cantat foi preso e, em 2004, condenado. Mesmo com o seu vocalista encarcerado, Noir Desir ainda produziu algumas compilações e discos ao vivo, além de fazer alguns shows. Após a liberdade condicional de Cantat, em 2010, a banda criou pouco, e a produção de maior detaque foi a participação no álbum do cantor e compositor francês, Alain Bashung. No final desse mesmo ano, os integrantes anunciaram o fim do grupo.

Fui apresentado ao Noir Desir por meu irmão, que morou um ano na França e gostava das músicas dessa banda. A primeira canção que ele me mostrou foi Le vent nous portera (vídeo abaixo), da qual gostei logo de cara. Não entendi uma palavra da letra, mas a melodia e o arranjo eram muito bons. Ouvi as outras do mesmo álbum e também gostei. Virei, então, fã do grupo e fui atrás de outros discos. Hoje entendo um pouquinho mais de Francês e posso dizer que as letras também são muito boas.

Dos discos de estúdio, tenho quatro (Veuillez rendre l'âme, Tostaky, 666.667 Club e Des visages des figures), todos muito bons. Os três primeiros são de heavy metal, têm um som mais pesado, com muitas distorções de guitarra, tom mais agudo, além de vocais altos no volume e, às vezes, até gritados e raivosos, próprios desse estilo. No último, o som é mais leve, doce e melódico, em que eles fazem experimentações nos arranjos com a introdução de instrumentos pouco comuns ao rock; e o resultado é excelente.

O melhor disco, na minha opinião, é justamente o Des visages des figures, o primeiro que conheci, assim como a minha música preferida foi a primeira que ouvi: Le vent nous portera. Outras de que gosto: Aux sombres héros de l'amer, Oublié, Un jour en France, A ton étoile, Des visages des figures.


Vídeo de Le vent nous portera. Logo após, letra e tradução (com a devida licença poética). Gosto de prestar atenção ao arranjo do baixo elétrico. Muito bom!




Le vent nous portera

Je n'ai pas peur de la route
Faudrait voir, faut qu'on y goûte
Des méandres au creux des reins
Et tout ira bien (là)
Le vent nous portera

Ton message à la Grande Ourse
Et la trajectoire de la course
Un instantané de velours
Même s'il ne sert à rien (va)
Le vent l'emportera
Tout disparaîtra mais
Le vent nous portera

La caresse et la mitraille
Et cette plaie qui nous tiraille
Le palais des autres jours
D'hier et demain
Le vent les portera

Génetique en bandouillère
Des chromosomes dans l'atmosphère
Des taxis pour les galaxies
Et mon tapis volant lui
Le vent l'emportera
Tout disparaîtra mais
Le vent nous portera

Ce parfum de nos années mortes
Ce qui peut frapper à ta porte
Infinité de destins
On en pose un et qu'est-ce qu'on en retient?
Le vent l'emportera

Pendant que la marée monte
Et que chacun refait ses comptes
J'emmène au creux de mon ombre
Des poussières de toi
Le vent les portera
Tout disparaîtra mais
Le vent nous portera


O vento nos levará

Não tenho medo do caminho
Precisaria ver, é preciso prová-lo
Os meandros do corpo* 
E tudo ficará bem
O vento nos levará

Sua mensagem para a Ursa Maior
E a trajetória da corrida
Uma fotografia doce
Mesmo que isso não sirva para nada
O vento o carregará
Tudo desaparecerá mas
O vento nos levará

O carinho e a saraivada de balas
E essa ferida que nos divide
O palácio de outros dias
De hoje e de amanhã
O vento os levará

A genética carregada nos ombros**
Cromossomos na atmosfera
Táxis pelas galáxias
E meu tapete voador
O vento o carregará
Tudo desaparecerá mas
O vento nos levará

O perfume dos nossos anos mortos
Esses que podem bater em sua porta
Infinidade de destinos
Nós escolhemos um, mas o que retemos dele?
O vento o carregará

Enquanto a maré sobe
E cada um refazendo suas contas
Eu levo no vazio da minha sombra
Poeiras de você
O vento as carregará
Tudo desaparecerá mas
O vento nos levará

* Tradução muito difícil, dado o sentido figurado da expressão. Literalmente significa "meandros no oco dos rins", mas não faz sentido. Pesquisei, e a interpretação mais  frequente e que melhor se aplica ao contexto é essa, pois a música fala da relação de um casal: seu início, meio e fim. Creux de reins refere-se à região da genitália feminina.

** En bandouillère: refere-se à forma de carregar algo com um tipo de alça que vai do ombro até o quadril no lado oposto.

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