terça-feira, 31 de julho de 2012

INCÊNDIOS


A primeira postagem da semana vai para o drama canadense Incêndios: direção de Denis Villeneuve, elenco  principal formado por Lubna Azabal, Mélissa Désormaux-Poulin e Maxim Gaudette, e roteiro de Valérie Beaugrand-Champagne, Wajdi Mouawad e Denis Villeneuve. Fiz questão de mencionar os roteiristas dessa vez por dois motivos. Primeiro para corrigir as injustiças anteriores pela falta de menção dos responsáveis por essa importante parte do filme, que é o roteiro. Esse que se constituiu a essência, a matéria-prima de toda a produção. Como escritor (de um modesto blog, eu sei; mas não deixo de sê-lo) não poderia cometer esse erro. Segundo, porque, de tão bom e original, o roteiro dessa película merece receber atenção especial.

Bem, o que esta história tem de bom e original? Vou fazer uma pequena introdução. No momento da leitura do testamento de uma mulher, o tabelião, de posse de três cartas escritas pela falecida, entrega uma a cada um dos filhos gêmeos dela, e retém a outra. Um dos gêmeos, que era mulher, deveria entregar a carta sob sua responsabilidade para um terceiro irmão de que eles, até então, não tinham conhecimento da existência. O outro, que era homem, deveria entregar a que recebera ao pai, que eles acreditavam estar morto. A terceira só deveria ser aberta após a entrega das duas primeiras. Tudo é surpreendente e confuso para ambos. O filho resiste em atender ao pedido da mãe, mas a filha se mostra disposta a vasculhar o passado da genitora para tentar desvendar esse mistério. Assim, ela parte nessa busca. Termino aqui a introdução e passo para a minha impressão sobre a obra.

Qualifico esse filme como tenso, impactante e perturbador.  A tensão já aparece no início, com a cena de um menino, por volta de seis anos de idade, que se encontra numa espécie de internato. No momento em que raspam a sua cabeça, a câmera se aproxima e dá um close no seu olhar penetrante e amedrontador, que parece revelar muito sofrimento além de esconder algum rancor profundo. O clima  tenso e sombrio da cena intensifica-se com a presença da bela e também sombria música, You and Whose Army, da excelente banda inglesa Radiohead (logo colocarei uma postagem sobre essa banda). Mais tarde saberemos quem é o menino e o motivo de ele estar nessas circunstâncias.

Outros momentos tensos surgem no decorrer da trama. Destaco um, em especial, que reputo a cena mais forte do filme. Durante toda a sequência desse momento, comprimimos involuntariamente o corpo e, ao final, ficamos com um nó apertado na garganta. Acrescento que as imagens fortes não são gratuitas; não estão ali só para chocar. Tudo é necessário para entender a situação em que a protagonista se encontra. Não vou contá-la porque não gosto de antecipar as emoções, mas creio que você reconhecerá esse trecho.

O aspecto impactante e perturbador também permeia toda a história, mas é no final que ele ganha força. Coço os meus dedos para digitar mais detalhes, mas tenho medo de revelar pontos que podem antecipar algumas emoções do filme e, como já disse, não gosto de fazer isso. Quero que todos fiquem atordoados com as revelações, assim como fiquei, e sintam a angústia dos personagens ao tomarem conhecimentos dos fatos, assim como senti. Inclusive precisei de alguns minutos depois do término do filme para digerir drama tão chocante.

Cabe comentar sobre o contexto em que se dá a trama. Incêndios tem como pano de fundo a guerra motivada pela intolerância religiosa. Não se faz menção clara ao país que vive esse momento conturbado, porém, pela paisagem, língua, referências religiosas, trajes e características físicas das pessoas, parecer ser  do Oriente Médio. Dito isto, é nesse ambiente de guerra civil que decisões precipitadas, ao lado da rigidez para tratar problemas de transgressão religiosa, vão gerar consequências funestas para a vida das pessoas envolvidas.

Não pense que, por conta de toda essa descrição acima, o diretor descamba para o sentimentalismo barato e explora o sofrimento dos personagens para provocar comoção e chororô. Material não faltou para fazê-lo, porém ele resiste a essa tentação e cria uma atmosfera mais sóbria e racional para o benefício da avaliação adequada da situação.

Daí você me pergunta: e o nome Incêndios, o que tem a ver? Bem, esse nome não foi pensado à toa. Durante todo o filme aparecem cenas de fogo em atuação ou de locais já em cinzas. Entretanto, o título pode também se referir à chama mais intensa e devastadora de todas, exatamente aquela que consumiu o íntimo de cada pessoa atingida pelo desfecho dos trágicos acontecimentos.

Recomendo. Muito bom!!

Segue o trailer




4 comentários:

  1. excelente filme, excelente crítica. O bom é que vc não adiantou nada que não devia...Depois que assisti, fui ler uma crítica no omelete cultural (tem ótimas críticas lá, diga-se de passagem), mas nessa achei que eles vacilaram nesse quesito, se não tivesse visto o filme teria ficado bem chateada, assim como fiquei quando li a sinopse de "noites brancas" rsrsrs

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    1. Oi, amor.
      Agradeço o comentário e os elogios. Também ficaria frustrado se soubesse de detalhes que adiantem surpresas do filmes, por isso faço o esforço de não divulgar nada que antecipe emoções.
      Bjs

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  2. Quando li seu comentário me senti no filme e fiquei bem curiosa. Vou assistir e depois comento o que achei do filme. Tem programa melhor do que assistir um bom filme,tomando um vinho e comendo um bom queijo (claro, tudo com moderação,"palavra de nutricionista")????

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    1. Obrigado por acompanhar e comentar o blog, Danielle. Assista mesmo e volte aqui para deixar sua opinião. Acho que vai gostar. E vai ficar melhor ainda se assistir do jeito que falou.
      Até logo

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