Quando tive (sim, o verbo é
esse, porque ler para mim era obrigação) que ler O Príncipe pela primeira vez
no primeiro ano de faculdade, logo uma pergunta me veio à mente: Por que
escrever para um príncipe, se quem manda de verdade é o Rei?! Bem, por ora, deixei isso para
lá. Mas como o autor era Maquiavel, humm...!!, comecei a pensar que
poderia ser uma leitura interessante, pois, no imaginário popular, o cara tinha
fama de ser mau, muito mau. O nome em si já dava medo: Maquiavel!!
De repente, uma luz! Matei a charada em relação ao título! Maquiavel escreveu para o Príncipe para que esse pudesse tramar contra o Rei e tirá-lo do trono. Pô! Realmente, Maquiavel era muito mau: ensinar o filho a derrubar o próprio pai?!!. Vai ser excitante! Pensei. Não, não me julgue. Eu não era um adolescente sádico e perverso; eu era até tranquilo. Mas, sabe como é adolescente, né? Por mais pacífico que ele seja, uma boa conspiração o atrai. Além disso, já que ler era uma tortura para mim, que eu tivesse, pelo menos, alguns momentos de emoção. De qualquer maneira, se eu pudesse escolher, preferiria ver o filme. Mas, como não havia opção, só me restou ler.
Ao abrir o livro: Expectativa! Agora começa bagaceira!! Ao terminar: Que decepção!! Nenhuma orientação para que o Príncipe tomasse ardilosamente o trono do Rei, tampouco Maquiavel era tão cruel assim. Em alguns trechos, o cara se mostrava piedoso, rebaixava o valor de governantes que praticaram atos desumanos e até aconselhava o tal Príncipe a ser generoso, devendo respeitar posses e mulheres dos súditos! Havia conselhos malvados, mas não na quantidade esperada. Ao ler a última linha, inevitavelmente, soltei a expressão: Pô, “Maqui”, cade você??!!
Brincadeiras à parte. Vamos para os esclarecimentos. Descobri que "príncipe" remete ao termo princeps, título da Roma antiga usado para designar o soberano de um Estado, o seu maior governante. É nessa acepção que ele emprega essa palavra no título de sua obra.
Quanto à maldade de Maquiavel, a leitura de O Príncipe deve ser feita com a devida contextualização da sua obra, sob pena de tomá-lo como ardiloso, inescrupuloso e perverso, uma vez que ele oferece conselhos frios, duros e, por vezes, crueis. Entretanto, lendo sob a perspectiva correta, veremos que o termo maquiavélico, em referência a esse grande escritor e filósofo, foi equivocadamente cunhado .
Ontem terminei de ler O Príncipe pela segunda vez e o indico por ser um livro rico e atual, além de apresentar uma escrita elegante e agradável. Não é à toa que ele ainda ostenta grande vigor apesar de ter vários séculos, sendo lido por grandes governantes da história passada e presente. Como, antes de tudo, Maquiavel faz a leitura da essência do ser humano, e isso nunca muda, creio que esse livro só perderá sua força, quando não existir mais a humanidade. (Ficou meio apocalíptico, mas, como estamos no temido e enigmático 2012, vou deixar assim).
Até mais!
De fato é uma leitura fundamental para se estudar a política e a própria gênese do pensamento ocidental. Neste livro ocorre o rompimento com a tradição antiga e medieval de que o homem teria uma "natureza" e que bastava não complicar muito para que "naturalmente" o Estado se conduziria para harmonia eum bem-viver dos cidadãos.
ResponderExcluirMaquiavel quer dizer: não existe porcaria nenhuma de natureza e tendência natural à harmonia; nada garante que bondade e ética garantirão ao governante a manutenção do reino, mas antes, a astúcia e oportunismov para agarrar as oportunidades e escapar das armadilhas.
Mto interessante essa análise!
ExcluirSurpreendeu-me a obra, como esse livro antigo nos faz refletir e perceber as relações entre os ensinamentos contidos em suas páginas e fatos contemporâneos. Podemos dizer que o governo para ser bem sucedido, quer seja uma monarquia ou república, deve objetivar a segurança das propriedades e da vida, sendo esses os desejos mais universais da natureza humana. Os desejos e as paixões seriam os mesmos em todas os povos. Quem observa os fatos do passado pode prever o futuro,claro, com a semelhança entre as circunstâncias entre o passado e o presente.
ResponderExcluirMuito bem colocado, Danielle. Maquiavel escreveu O Príncipe no início do século XVI, num tempo em que a Itália estava toda fragmentada, enquanto outras nações européias já estavam unificadas. Ele queria ver seu país unido, e esse sentimento patriótico o moveu a escrever o livro e enviá-lo para a autoridade que pudesse transformar a situação italiana. Assim, Maquiavel formulou conselhos baseado na sua experiência prática, mostrando a visão realista do governo e não a fantasiosa; tudo visando, principalmente, ao bem do seu povo.
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